Se o som da buzina reproduzisse a língua dos turistas, o trânsito de
Florianópolis multiplicaria sotaques. A ideia de estar na Ilha entre
janeiro e março anima, a cada temporada, uma quantidade maior de
estrangeiros e brasileiros de regiões diferentes. Em cinco anos, o
número de visitantes aumentou 99,3% — passou de 780 mil para 1,55 milhão
(triplicando a população da Capital catarinense). E, segundo pesquisa
da Santur, mais da metade deles vêm de carro.
A reportagem do Diário Catarinense
percorreu as principais vias de acesso às praias e comprovou: foram
flagrados pelo menos cem veículos com placas de cidades diferentes. A
maioria vem da Argentina e do Rio Grande do Sul.
Valdir
Walendowsky, presidente da Santur, explica a invasão motorizada com um
taxativo "fácil e mais barato". Nesses dois principais emissores de
turistas, a distância que se precisa percorrer até Florianópolis não é
muito longa e os custos com o combustível costumam pesar bem menos no
bolso do que os gastos com passagens aéreas para todos os ocupantes do
carro.
O problema é que se o preço da comodidade for calculado com o relógio,
perde-se tempo. E a explicação é óbvia, com a chegada dos turistas
aumenta o número de veículos, mas o espaço nas vias permanece o mesmo.
Resultado: trânsito lento, filas, congestionamento. Do centrinho da
Lagoa da Conceição até a Praia Mole ou a Joaquina, que tem menos de oito
quilômetros, nos horários de pico pode se levar até quatro horas. Em
direção ao Sul da Ilha, na SC-405, a terceira faixa, reversível, não dá
conta da demanda e para o Norte, nem quem trafega pela pista duplicada
da SC-401 escapa da lentidão.
—
A tendência é que, a cada temporada, o trânsito fique ainda mais
pesado. No verão passado trabalhávamos na SC-401 com uma demanda de 60
mil veículos por dia, agora já estamos falando em 90 mil veículos por
dia — diz o major da Polícia Militar Rodoviária, Fábio Martins.
O
discurso se maximiza na alta temporada, mas segundo o doutor em
Urbanismo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
Elson Manoel Pereira, não dá para dizer que se sustente com esse único
argumento. Em Florianópolis, a frota cresceu mais do que a população.
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